Dados pessoais
Nome completo: Anne Ayumi Kawabe
Onde cursou o ensino médio: Colégio Harmonia (São Bernardo do Campo)
Onde jogava bola antes de embarcar: Escola do Sport Club Corinthians Paulista e no colégio onde estudava. Antes de jogar pela escola de futebol do Corinthians, joguei pelo São Bernardo Futebol Clube.
Universidade nos EUA: Urbana University
Ano de embarque: 2014
Anne, onde e quando o futebol entrou na sua vida? Por quais times/clubes você passou desde criança?
O futebol sempre foi uma tradição na minha família. Sempre que me juntava com meus irmãos, primos e tios, jogávamos partidas de futebol (geralmente pais vs. filhos) ou assistíamos a uns jogos na televisão. Tive a sorte de sempre ter tido o incentivo da minha família para jogar futebol, principalmente do meu pai. Ele me treinava, fazia de tudo para assistir os meus jogos, procurava oportunidades e clubes para eu jogar e fez o possível para que eu pudesse vir aos Estados Unidos e continuar jogando.
Decidi que queria começar a treinar futebol quando tinha por volta de 9 anos. A minha opção foi treinar com os meninos da minha escola porque antes não havia um time feminino. Acredito que eu e a minha amiga Isabela, que também joga futebol até hoje, fomos as primeiras meninas na história do meu colégio a competir em torneios de futebol com os meninos. Naquela época eu jogava de goleira. Depois de uns 3 anos jogando com os meninos, a minha escola decidiu abrir treinos femininos. Nós participamos de vários torneios, desde campeonatos municipais até a Copa Jetix e a Copa Net. O time feminino foi se solidificando, até se tornar o time mais bem-sucedido do colégio. Lembro que às vezes, quando tínhamos jogos decisivos, a escola praticamente parava para vir nos apoiar. Nos primeiros anos jogando com as meninas, eu continuei jogando de goleira. Porém, após pedir ao técnico em um jogo para bater um pênalti, e fazer, eu nunca mais voltei a jogar como goleira. A partir daí, virei artilheira de alguns campeonatos e assim decidi começar a treinar mais sério fora do colégio. Em 2011 comecei a treinar no São Bernardo (SBFC) e um ano e meio depois fui para a escola do Corinthians no Parque São Jorge onde pude participar de campeonatos de futsal e de futebol de campo. Finalmente, em 2014, consegui uma bolsa esportiva para jogar futebol por Urbana University no estado de Ohio.
Você chegou a ter vontade de jogar futebol profissional no Brasil? Conte-nos um pouco do papel que o futebol tinha na sua vida antes do College
Além de ser uma paixão, o futebol também foi uma escola para mim. Através do futebol, eu pude ter contato e fazer amizades com pessoas de diversas culturas, raças e classes socioeconômicas, eu pude viver experiências únicas que me ensinaram imensamente, eu aprendi o significado de ser parte de um time e a importância de se saber trabalhar em equipe, e também pude descobrir mais sobre a mim mesma e minha identidade. O futebol era, e ainda é, um dos fatores fundamentais na minha vida. Como atleta, tinha o sonho de jogar profissional no Brasil e fazer parte da seleção brasileira de futebol, ou até mesmo de futsal. No entanto, sabendo da realidade das jogadoras profissionais no Brasil, estimei que teria melhores oportunidades tentando cursar o ensino superior nos Estados Unidos.
Porque você decidiu fazer College nos EUA? Esse era um sonho seu ou da sua família?
Pensando bem na minha decisão de ter vindo fazer o college nos EUA, creio que esta era uma vontade minha e da minha família também. Particularmente, eu decidi vir fazer uma universidade nos EUA porque eu sempre adorei conhecer culturas novas, mas também porque me daria a oportunidade de desenvolver paralelamente dois aspectos importantes para mim: educação e futebol. Para os meus pais, um diploma de uma universidade americana me daria melhores oportunidades de trabalho futuramente. Por isso, a ideia de que eu poderia continuar jogando o esporte que eu amo e de que, através do futebol, eu poderia conseguir uma bolsa de estudos para fazer o ensino superior em universidades estrangeiras pareceu extremamente atrativa para mim.
Como foi o seu processo de preparação para conseguir a bolsa? Você teve auxílio de alguma pessoa ou empresa? Qual foi sua maior dificuldade nesse processo?
O processo de preparação para conseguir uma bolsa foi árduo, porém, gratificante. Resumidamente, foi necessário focar em quatro áreas: futebol, educação, idioma e documentação. É importante ressaltar que apesar de o treinamento de futebol ser uma parte significativa do processo, o histórico escolar e habilidades na língua do local onde a universidade se encontra também são de extrema importância. Por isso, a maior dificuldade para mim foi balancear todas essas áreas, principalmente porque o meu interesse pelo futebol era maior. Para a minha sorte, tive o privilégio de ter o auxílio da empresa Daquiprafora, por onde conheci a Fernanda Luiz, que me ajudou com o planejamento e a entrar em contato com universidades nos EUA.
No quê você se formou lá e como está a sua carreira pós-college?
Em Urbana University eu me formei com um bacharel em biologia e um minor, que é um complemento ou uma subespecialidade de curso, em pré-medicina. Após me graduar, consegui uma bolsa de ensino em Ohio University para fazer o mestrado em estudos latino-americanos. Concluí o mestrado no início do mês de maio e estou decidindo entre continuar os estudos ou ingressar em uma empresa para iniciar a carreira profissional.
Como jogadora de futebol, quais diferenças você viu entre o que tinha aqui no Brasil e o que encontrou nos EUA?
Na minha experiência, as principais diferenças de estilo de jogo entre o Brasil e os EUA são que os dribles e habilidades parecem ser mais naturais para jogadoras brasileiras, o que é uma qualidade vantajosa para ser usada, e os jogos nos EUA são mais físicos e há um foco maior na forma física.
Você acredita que ter feito college nos Estados Unidos contribuiu para a sua carreira? E para o seu futebol? Conte-nos um pouco dos principais aprendizados e conquistas advindos dessa experiência
Ter feito o college nos EUA definitivamente contribuiu para a minha carreira porque abriu portas para oportunidades tanto no Brasil quanto internacionalmente. Além disso, pude conhecer pessoas de diversos lugares do mundo. Para o futebol, aprendi a adaptar o meu estilo de jogo em relação ao que eu estava acostumada no Brasil. Uma coisa que me surpreendeu muito ao vir jogar nos EUA é a importância e a infraestrutura voltada ao esporte. Como uma jogadora de futebol no Brasil, principalmente mulher, os clubes onde joguei praticamente não tinham bons equipamentos de treino, já que quase não havia dinheiro para uniformes e até transporte para jogos. Nos EUA, eu fiquei surpresa em ver como as universidades investem nos esportes. Ter tido vivência em ambos países me motiva a buscar maiores incentivos para o futebol feminino no Brasil.
Se pudesse voltar no tempo, você teria feito alguma coisa diferente no que diz respeito à sua preparação para conseguir a bolsa? E durante os anos lá, teria feito algo diferente?
Se pudesse voltar no tempo, teria levado mais a sério os estudos para o SAT, uma prova estadunidense equivalente ao ENEM, e teria feito mais exercícios de musculação. Não sei se mudaria algo durante os meus anos no college, mas uma coisa que deu muito certo para mim foi pesquisar quais oportunidades e serviços a universidade providencia aos estudantes. As faculdades geralmente oferecem trabalhos aos alunos ou bolsas extras para ajudar com certos custos. Basta estar atento(a) às oportunidades.
Para as jovens atletas (ou famílias) que ainda estão na dúvida sobre essa oportunidade, qual recado você daria?
A obtenção de um diploma de uma universidade estrangeira, principalmente mostrando a capacidade de equilibrar os estudos e a vida esportiva, abre portas para carreiras tanto no Brasil quanto em outros países no mundo. Aos que têm o interesse em conseguir uma bolsa esportiva para o college, busquem o auxílio de pessoas que têm experiência nessa área e lembrem-se de iniciar o processo de preparação com antecedência para dar tempo de se preparar bem nas quatro áreas mencionadas anteriormente: futebol, educação, idioma e documentação.